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MOGI DAS CRUZES

Produtores de Mogi das Cruzes adotam medidas para reduzir perdas causadas pelo calor e chuva



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Calor intenso e tempestades de verão: essas condições climáticas potencialmente danosas, principalmente para as culturas de legumes, verduras e raízes que fazem parte do nosso cardápio do dia a dia, não podem ser evitadas, mas boas escolhas em campo protegem os produtores rurais de perdas acentuadas. 


O engenheiro agrônomo Thiago Costa, que atua na CATI Regional Mogi das Cruzes, um dos municípios do Cinturão Verde paulista, explica que as culturas de hortaliças em geral, mas, principalmente, as folhosas, das quais consumimos a parte aérea, são as que mais sofrem com fenômenos climáticos e seus extremos. “Principalmente cebolinha, alface, couve, rúcula, espinafre, almeirão, cenoura, beterraba, entre outros alimentos que fazem parte da nossa alimentação cotidiana”, aponta o técnico.

Thiago aponta que um dos danos por fenômenos climáticos mais comuns é o aumento do aparecimento das doenças fúngicas e bacterianas, menor oxigenação do solo e das raízes das plantas, resultado do excesso de umidade causado pelas demasiadas chuvas. Já as altas temperaturas, por provocarem aumento da evapotranspiração das plantas e maior consumo de água, exigem que a área de cultivo receba irrigação com mais frequência. De acordo com o técnico, os ventos também podem provocar tombamento de plantas. “Quando já pensamos nos danos acarretados por fatores climáticos extremos, os mais comuns são perdas por granizo, que causa amassamentos, ranhuras, furos nas folhas, quebra de pecíolo e caule. Quando chove muito, temos também perda parcial ou total da lavoura, devido às enchentes”, explana. 


Segundo o técnico da CATI, os médios e pequenos agricultores familiares e produtores assentados atendidos pelo órgão na região têm a fungicultura, a fruticultura e a olericultura como principais culturas, no caso das hortaliças, com nível médio de tecnologia.  


Para dirimir os prejuízos causados pelas condições climáticas adversas, a CATI Regional Mogi das Cruzes promove capacitações, oficinas e visitas de orientação e trabalho sobre práticas de implantação de quebra-ventos ou cerca-vivas, adubação equilibrada, com técnicas como a aplicação de pó de rocha na plantação, insumo agrícola de baixo custo que apresenta nutrientes necessários para os vegetais e para um solo equilibrado.  

A equipe também tem trabalhado, junto aos produtores, a adubação verde, com a adoção de plantas de cobertura, como aveia-preta, painço, milheto, girassol, crotalárias, guandu; bem como o controle biológico de pragas e patógenos, por meio da produção de compostos orgânicos e biofertilizantes. “Todas essas práticas são de efeito preventivo e atenuantes em casos de intempéries climáticas”, diz, lembrando com especial destaque do sistema de plantio direto de hortaliças sobre a palha (SPDH). 

Entre os princípios do sistema, está revolver minimamente o solo apenas nas covas ou nos sulcos, o que garante menor compactação e a conservação, reduzindo perdas por erosão; rotação de culturas, com plantas de cobertura que produzirão a palhada; e cobertura permanente do solo. Ao preconizar a manutenção da palhada e o plantio subsequente das hortaliças, este sistema reduz a temperatura do solo, necessita de frequência de irrigação menor, controla as plantas espontâneas por abafamento, promove aumento da matéria orgânica do solo e recuperação de solos degradados ou fracos devido ao cultivo subsequente da mesma espécie.  

“Há vários aspectos de manejo que precisam ser bem trabalhados para um resultado satisfatório, entre eles a necessidade de levar uma muda mais alta para o campo, porém o custo de produção é menor, pois há redução substancial de insumos, principalmente fungicidas, inseticidas e herbicidas, assim como fertilizantes em médio e longo prazos, pois ocorre a melhoria da qualidade do solo”, aponta Thiago. 

É o que tem acontecido na lavoura da pernambucana Maria José Marques da Silva, assentada do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Santo Ângelo em Mogi das Cruzes. “Meus pais são agricultores, então, desde criança, eu tive contato com a terra. Vim para São Paulo há bastante tempo, motivada pela oportunidade de produzir aqui. Cheguei ao assentamento há 16 anos e permaneci; não penso em voltar e toco a produção sozinha”, conta. Maria tem cultivado hortaliças − principalmente couve, cenoura, cebolinha, salsa, quiabo e manjericão − ao longo de todo seu trabalho como agricultora.  

“Eu comecei com o plantio direto em abril de 2023, com aveia da CATI. Plantei cinco canteiros. Percebi que ajudou muito na produção. A palha que fica no canteiro segura a umidade, pois antes eu irrigava duas vezes ao dia e, agora, irrigo somente uma vez. As plantas têm se desenvolvido melhor e queimam menos nos dias de muito sol. Além disso, com a palha, eu precisei fazer, com menos frequência, a limpeza de plantas daninhas dos canteiros e reduzi também a aplicação de adubação. Hoje, eu utilizo somente bokashi, biofertilizante e produtos biológicos. A palha ficou bastante tempo no solo; hoje, faz sete meses que plantei e ainda vejo restos dela no canteiro. Para o ano que vem, quero aumentar o numero de canteiros com plantio direto para 10 ou 15”, conta.  

O agricultor Nilo Augusto de Faria Guedes, que também participa do PDS Santo Ângelo, conta que antes de trabalhar no assentamento, como produtor, morava e trabalhava na cidade. “Quando me casei, a família da minha esposa e ela eram agricultores e eu vim trabalhar junto com eles. Eles sempre cultivaram hortaliças aqui no assentamento”, comenta. Plantando hortaliças, especialmente alface e cebolinha, desde o início o cultivo foi convencional, mas, assim como Maria, que há quatro anos iniciou a transição agroecológica em sua lavoura, Nilo também deu início ao processo no ano passado. 

“No ano passado, decidimos fazer uma transição agroecológica, pois queríamos reduzir nossos custos de produção, produzir melhor e com mais saúde, para nós e para os consumidores”, fala o produtor. 

Em 2023, ele implantou o sistema de plantio direto em quatro canteiros.  “Percebi que a palha segura a umidade do solo e a temperatura também, o solo não esquenta tanto e, com isso, tive menos perdas de produtos. Percebi também uma melhora na eficiência de utilização de produtos biológicos e no controle de plantas daninhas. Fiquei muito satisfeito, pois, na área que implantei SPDH, não conseguia plantar cebolinha havia muito tempo e, quando a plantei como segunda cultura, na palha, ela se desenvolveu muito bem. Pretendo continuar fazendo SPDH sempre em alguns canteiros da propriedade e de forma alternada”, encerra. 

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