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Os mais de 140mm de chuva que caíram em Mogi das Cruzes entre domingo e segunda deixaram danos não só no perímetro urbano, onde na noite de ontem moradores interditaram uma via em protesto contra os alagamentos, mas também nas áreas rurais de regiões mais afastadas, onde atuam os agricultores do chamado Cinturão Verde, responsável pela maior parte do abastecimento de folhosas e hortaliças do estado.
Em regiões mais baixas e próximas ao Rio Jundiaí, a perda chegou a ser de 100% dos produtos, o que totalizaria, em alguns casos, mais de R$ 50 mil. O prejuízo, no entanto, é incalculável, uma vez que o excesso de água prejudica também as raízes e o próprio solo, afetando inclusive as plantações futuras.
As plantações mais afetadas foram as de alface, salsinha, cebolinha, repolho, almeirão, catalônia, coentro e agrião.
Muitas dessas propriedades devastadas pela chuva são de agricultura familiar – a família toda trabalha na roça – , o que significa que, sem o lucro obtido com a venda dos produtos, eles ficam sem absolutamente nenhuma fonte de renda.
Fernanda Vieira é uma jovem produtora que mantém no Facebook a página Diário de um Agricultor – onde ela realiza um trabalho para tentar introduzir os jovens no setor, tomando frente dos negócios do campo. Infelizmente, a chuva que caiu nos últimos dias em Mogi acabou com todas as verduras que a família estava produzindo na Chácara Vieira, em Jundiapeba. “Como sabemos, com a área alagada dessa forma, não temos nem o que fazer. É perda total de mercadorias mais uma vez. A todos que estão na mesma situação, sinto muito”, disse ela.
Em entrevista à reportagem do Notícias de Mogi, Fernanda explicou que mora em uma área um pouco mais alta e, por isto, a água já está descendo. “Mas quem mora mais próximo ao Rio Jundiaí perdeu tudo mesmo. Há propriedades que estão totalmente debaixo d’água, com 100% de perda. Meses e meses de trabalho”, afirmou.
A produtora explicou ainda que, quando a produção alaga, ocorre o encharcamento das plantas, o que faz com que a raiz fique impossibilitada de crescer e a planta comece a morrer aos poucos. Nem mesmo o sol pode salvá-las, já que, molhadas, elas acabam “cozinhando” – termo utilizado por Fernanda.
Sobre os planos para o futuro, a jovem agricultora não vê outra saída: “Só nos resta esperar. A terra está encharcada. Estamos parados, sem ter o que fazer”.
Desabafo
Em um relato publicado em sua página e direcionado aos colegas de profissão, Fernanda aproveitou o momento para levantar a questão da injustiça sofrida pelos produtores rurais, não apenas nas épocas de chuvas, mas o ano inteiro. “Por anos estamos trabalhando muito e ganhando pouco, de todo e qualquer lado sempre tem algo faltando, uma documentação pendente, algo pra nos barrar, alguém dizendo que estamos extorquindo o consumidor final, alguns feirantes que pulam de roça em roça por diferença de centavos. E o preço dos insumos? Aumenta a cada perda na roça. Estamos trabalhando no vermelho faz tempo! Tiramos R$ 100 do lucro pra investir R$ 150”.
Na opinião de Fernanda, “o Agricultor deveria ter porta aberta pra consórcios, pra financiamentos, pra créditos, ser assegurado de tua produção”. Ao invés disso, segundo ela, “ele tem de baixar a cabeça, se fingir de morto e ressuscitar pra topar qualquer oferta que aparecer”.