Siga nosso Canal no WhatsApp e receba todas as notícias da cidade no seu celular!
Neste domingo (15), o Teatro Experimental Mogiano completa 55 anos. O grupo, que surgiu e se desenvolveu em tempos de luta pela retomada da democracia, é prova viva de que a cultura é um dos segmentos da sociedade com maior capacidade de resistir às adversidades e se regenerar quando preciso, o que serve perfeitamente de alento aos jovens artistas que, desde o início da pandemia, viram os auditórios se esvaziar por questões sanitárias.
O TEM nasceu do idealismo de um grupo de jovens estudantes do Instituto de Educação Dr. Washington Luis (IEWL), que já tinham certa experiência de palco adquirida nos shows e nas festas realizadas pelo GEUP (Grêmio Estudantil Ubaldo Pereira) e pela Direção da Escola. Entre esses jovens estavam Milton Feliciano de Oliveira, Alberto Perotti, Lauro Juk, Armando Sérgio da Silva, José Cardoso Pereira, Nelson Júdice Muniz, Jonas Cardoso Pereira, Sérgio Roberto Correa (Serginho), Luiz Koshiba, Eladia Morales e Flávio Benedito Viana.
Segundo depoimento de Eladia Morales publicado no blog do TEM, a criação do grupo foi concebida antes, em uma determinada noite, quando alguns deles, reunidos no Maracanã (a principal pizzaria da época em Mogi das Cruzes), depois de assistir as peças ‘Opinião’ e ‘Arena Conta Zumbi’ em São Paulo, resolveram fazer alguma coisa semelhante em Mogi. Flavio Viana lançou a ideia de formarem um grupo, alguém sugeriu que Milton Feliciano escrevesse uma peça. Todos ficaram empolgados e resolveram montar o TEM.
No primeiro domingo de agosto de 1965, os jovens estavam no salão da Rádio Marabá, na parte superior do Cine Avenida, para apresentar a peça ‘Inconfidência Mineira’.
O sucesso foi tanto que as pessoas começaram a frequentar inclusive os ensaios do TEM, contou um dos fundadores do grupo, Marco Antonio Rodrigues Nahum, em sessão solene para recebimento de um diploma de Honra ao Mérito na Câmara de Mogi das Cruzes em 2014. “Aqueles jovens, por meio da arte, fizeram sorrir, chorar e se emocionar, ao mesmo tempo em que também sorriam, choravam e se emocionavam”, disse Nahum na ocasião, acrescentando em seguida: “essa geração ainda me faz crer que, se um dia o computador conseguir pensar, jamais conseguirá sonhar, como o fez essa juventude”.
De acordo com Milton Feliciano, eram 15 os fundadores do grupo. “Quinze amadores, autodidatas em termos de teatro, mas com muita vontade de dizer coisas que, na época, pouca gente tinha coragem de dizer. Sobrevivemos”, conta ele.
Ao longo de 55 anos, o TEM apresentou mais de 50 peças nacionais e estrangeiras para o público adulto e mais de 10 peças infantis, além de inúmeros shows em Mogi das Cruzes, São Paulo, interior paulista e Rio de Janeiro.
“O TEM foi proibido. O TEM foi censurado às vésperas da apresentação da peça ‘Amor-te Natal’. A polícia proibiu a apresentação. Essa proibição durou pelo menos 12 anos. E a gente resistiu a tudo isso”, diz Feliciano.
Mais de meia década depois, o mesmo grupo segue levando arte e amor por onde passa. Recentemente, e por mais de uma vez, eles lotaram o Theatro Vasques, em Mogi, como, por exemplo, quando apresentaram o espetáculo “Tem Amor Sob o Luar”, em setembro de 2018 e maio de 2019, em conjunto com o Grupo Ousadia.
Apesar de estar se cuidando, o grupo, que não silenciou perante as imposições de uma ditadura, também não parece se sentir intimidado em meio a uma das maiores pandemias já vistas na história do planeta. Mesmo com um show cancelado às vésperas da realização, no início da quarentena, e a impossibilidade de se apresentar para comemorar o 55º aniversário, conforme planejado, aqueles mesmos jovens que encararam a repressão de frente nos anos 60 ainda se permitem sonhar. Sonhar com o dia em que subirão em um palco novamente para fazer aquilo que a vida inteira eles lutaram para continuar fazendo.
“Voltaremos com certeza com muita garra, com muito amor e esperando o seu aplauso ou a sua reclamação, se for o caso. O teatro é isso. O teatro é risco. O teatro é o salto no escuro. Não não sabemos onde vamos parar. Não sabemos se vamos ser aplaudidos, se vamos ser vaiados. Entramos cada noite em cena com essa apreensão. Mas no momento em que a cortina se abre, estamos em casa”, finaliza Feliciano.