Já ouviu falar em campeonato digital de skate? É uma modalidade que já existe há algum tempo, mas que vem ganhando mais presença com a pandemia do novo coronavírus e a necessidade de evitar eventos com aglomerações.
A Federação Paulista de Skate (FPS), por exemplo, está realizando um campeonato digital de Dowhill Slide, que consiste em descer uma ladeira aproveitando toda sua extensão e largura executando manobras, denominadas slide (derrapar), tanto de pé como se apoiando no chão.
Tudo acontece de forma online. Os participantes gravam vídeos realizando as manobras e cadastram em uma plataforma onde é aberta a votação que vai definir os campeões. Foi o que fez Marcelo Toscano, morador de Mogi das Cruzes com mais de 30 anos de experiência em skate.
“Participando desse evento, eu me divirto matando a saudade daquela época, além de concorrer a prêmios e expor minha imagem”, afirma o skatista de 45 anos de idade.
Toscano, que é o único participante de Mogi das Cruzes inscrito no campeonato, está, até o momento, entre os cinco mais bem colocados na pontuação geral. A votação termina nesta segunda-feira (17), na plataforma Skate Take. Já o resultado será divulgado na quinta (20).
Marcelo Toscano conversou com o Notícias de Mogi para contar um pouco mais sobre o campeonato e sua trajetória no skate. Confira abaixo.
Notícias de Mogi – Você nasceu e cresceu em Mogi das Cruzes? Conte um pouco sobre sua relação com a cidade e os lugares onde andava de skate na adolescência.
Marcelo Toscano – Nasci em Mococa-SP, fui adotado e logo fui para São Paulo-capital, onde cresci. Em 1994, quando corri pela primeira vez no skate profissional, namorei uma descendente de sul coreanos que morava em Mogi das Cruzes. Foi então que conheci e me apaixonei pela cidade.
Gosto muito de natureza, de cidades do interior. Aí você junta a paixão pelo skate (a pista do Parque Botyra era novinha; andei muito lá). O resultado foi paixão à primeira vista pela cidade.
Mesmo após o término do relacionamento eu continuei a vir frequentemente para a cidade para andar de skate e passear. E pensei: “um dia virei morar aqui”. Então, procurando melhor qualidade de vida para mim e minha família, há um ano eu vendi meu apartamento em São Paulo e comprei outro em Mogi; no bairro Mogi Moderno. Melhor coisa que eu fiz na minha vida!
NM – Sobre sua carreira. Quais foram os campeonatos mais expressivos e que já participou e quais foram as conquistas mais marcantes?
MT – Passei para a categoria profissional em 1994. No mesmo ano me acidentei seriamente e retornei em 2002 com diversos patrocínios.
Meu estilo de skate não envolve muitos eventos, até porque no skate isso não é mandatório; é mais um estilo de vida. Porém, já participei de vários
campeonatos e os que mais gostei foram o Tracker Street e Downhill em 2002 em São Bernardo do Campo-SP, evento categoria open que misturou 2 modalidades (street e dowhill) e todas as categorias misturadas em uma ladeira; evento este que fiquei em 6° lugar. O outro foi o Street Old School (Master) realizado em Osasco-SP em 2018 pela Império Skates; evento para skatistas acima de 30 anos no qual me classifiquei em 4° lugar. Fiquei muito feliz porque sou de uma categoria acima (Legends) e competir quase de igual para igual com skatistas 10 anos mais novos é muito gratificante.
No Qix Pro Skate Contest em Novo Hamburgo-RS, campeonato profissional de nível internacional em 2002, não fiquei entre os 10 primeiros porém muitos gostaram de minha volta e vieram me cumprimentar. Isso foi muito importante pra mim.
NM – Como você avalia a presença dos skatistas mogianos no cenário nacional? O esporte poderia ser mais bem valorizado na cidade?
MT – Em Mogi das Cruzes temos somente três skatistas profissionais naturais da cidade: Eduardo Augusto, Igor Smith e Letícia Gonçalves (que está na seleção brasileira de skate olímpico na modalidade bowl); Mogi das Cruzes pode ter outros skatistas profissionais porque tem muito potencial.
Existem muitos skatistas bons em Mogi; sempre existiu. O surgimento das pistas do Parque Botyra e principalmente a do Ginásio Prof. Hugo Ramos favoreceu muito.
Não podemos esquecer o surgimento e as ações da ASMC (Associação de Skate de Mogi das Cruzes), muito importante para a cena.
Mogi das Cruzes tem diversos talentos além dos já mencionados: Wilson Vidal, Caetano Costa, Matheus Souza (campeão estadual de skate amador 2015) e muitos outros. Precisamos lembrar dos pioneiros de Mogi: Arley Vidal, Marcel Paiva, o Bola e outros.
Mogi das Cruzes está cada vez mais bem representada no cenário nacional. Por essa e muitas outras razões o skate poderia ser sim mais valorizado na cidade. Skate movimenta a economia, movimenta o turismo (skatista adora viajar e andar em lugares diferentes; isso é muito importante para a imagem).
Segundo Datafolha em seu último levantamento (2016) somos mais de 8 milhões de praticante no Brasil. Um potencial econômico imenso.
O skate também tem um poder social enorme em incentivar a socialização de crianças e adolescentes, bem como tirá-los da ociosidade.
NM – Qual é a diferença entre participar de um campeonato digital e um campeonato presencial? A prática é nova no skate e se deu por conta da pandemia? Ou já existia?
MT – Campeonatos digitais já existiam com o avanço da tecnologia, porém em número muito menor. Realmente, devido a pandemia os eventos digitais aumentaram.
Um campeonato de skate sempre tem clima de festa, e isso continuou no digital. É claro que um presencial é infinitamente melhor!
Em um campeonato de skate ninguém torce contra ninguém; todos torcem para que todos acertem suas manobras e vibram muito com isso. É uma “bagunça organizada”, entende? Muita música, reencontro de amigos de outros estados, cidades e países. Além de competir eu constantemente trabalho em campeonatos como árbitro, locutor ou como o
realizador. Realmente é bem legal.