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De Madri, mogiano conta como a Espanha tem enfrentado o coronavírus



Depois da China, a Espanha foi um dos países que, junto com a Itália, se tornou um dos epicentros do coronavírus. Em pouco tempo, a Covid-19 se espalhou entre os espanhóis de tal forma que, já em meados de março, o país se viu obrigado a entrar em um dos lockdowns mais rígidos do mundo para conter a propagação da doença.



Com 249.271 casos confirmados até o momento – 18% do total já registrado no Brasil (1.370.488) – a Espanha, que possui uma densidade populacional bem inferior à brasileira, chama a atenção pelo número de casos de coronavírus a cada 1 milhão de habitantes: 5.292, no total.



O mogiano Camilo Feliciano tem 43 anos e mudou-se com a família para Madri, capital espanhola, em 2018, com o principal intuito de proporcionar uma educação de mais qualidade a seu filho. Ele lembra de quando os casos da doença começaram a crescer exponencialmente no país. “Muito próximo do período em que a Itália apresentou os primeiros casos, aqui na Espanha isso também aconteceu. No início, o governo foi pouco restritivo, sendo que os primeiros casos ocorreram com turistas italianos viajando à Espanha. Por pelo menos duas semanas, vimos aumentar os casos sem que nenhuma ação fosse implementada pelo governo nacional e apenas quando a presidente da Comunidade de Madri – o equivalente aos nossos governadores – decidiu fechar as escolas e os comércios é que o governo central decidiu impor um Estado de Alarme, reivindicando para si o mando único do país e iniciando as medidas de restrições”, explicou ele.



Entretanto, na opinião de Camilo, as medidas foram adotadas tarde demais. “A pandemia já estava instalada por todos os lados da Espanha, em especial nas duas principais cidades: Madri e Barcelona”, contou.



Com o Estado de Alarme, todos os comércios, prestadores de serviço e indústrias ditas não essenciais da Espanha foram obrigados a fechar suas portas. Assim, a partir de 14 de março todas as pessoas ficaram fechadas em suas casas, podendo sair às ruas apenas para comprar artigos de primeira necessidade em supermercados, farmácias e postos de gasolina. “Por 45 dias ninguém pôde sair de casa e as pessoas que necessitavam se deslocar para trabalhar precisavam apresentar uma autorização de suas empresas e eram bastante controlados pelas forças policiais. A população em geral manteve o confinamento, pois além do risco existente à saúde, havia multas que variavam de 600 Euros e 60.000 Euros por infringir as restrições”, disse Camilo.

Governo e Imprensa

O mogiano, que cresceu jogando bola na Rua Nossa Senhora dos Remédios, no centro da cidade, diz que as pesquisas de opinião não vinculadas aos governos mostram que a população espanhola, em geral, está bastante insatisfeita com a atuação do presidente Pedro Sánchez. “Ele tinha muitas informações que permitia antecipar as medidas de proteção à população e não as utilizou, ampliando muito o número de contágios e, infelizmente, o número de mortes”, afirmou Camilo, acrescentando que, com relação à reativação da economia, a população também está cética com as medidas adotadas, sem melhora a curto prazo.

Sobre a cobertura do coronavírus feita imprensa na Espanha, Camilo explicou que, “como não podia deixar de ser”, grande parte dos noticiários a foram dominados pelo assunto. “Os meios de comunicação aqui parecem mais plurais que o que acompanho no Brasil e se pode acompanhar a evolução de toda esta situação com visões mais à esquerda ou à direita, dependendo da linha editorial de cada grupo de comunicação”, contou ele.

“Agora as notícias se concentram nas consequências econômicas da pandemia, em que a queda do PIB espanhol é projetada para mais de 15% no ano, o desemprego pode chegar 25% da população economicamente ativa, além de um fechamento brutal de empresas”, completou.

Queda nos casos

Apesar de ainda apresentar taxa de contágio maior que a de outros países europeus, a Espanha, onde o primeiro caso de Covid-19 foi confirmado em 31 de janeiro, caminha, desde o início de maio, para a flexibilização nas regras de isolamento, viabilizada pela queda no número de novos casos da doença.

No dia 4 de maio, o país começou a reduzir as restrições, com a abertura de alguns comércios, serviços, indústria e construção civil e as pessoas puderam sair de suas casas para fazer pequenos passeios em faixas horárias divididas por idades. Em seguida, o governo estabeleceu fases para a ‘desescalada’ do confinamento, que começou a ser posta em marcha de acordo com a evolução sanitária de cada Comunidade Autonômica. Finalmente, no dia 21 de junho, toda a Espanha entrou em um novo “Estado de Normalidade”, mantendo restrições de aforo nos comércios e prestadores de serviço, uso obrigatório de máscaras e manutenção de distanciamento social.

Camilo falou também sobre as medidas adotadas pelo país para garantir que a retomada aconteça de forma segura para toda a população. “Hoje, em Madri temos que manter o uso de máscaras, um distanciamento mínimo de 1,5 metros das pessoas e os comércios tem um número limitado de pessoas que podem ingressar. Ainda há restrições para grandes espetáculos e as viagens dentro da União Européia estão começando a voltar. A cidade, aos poucos, volta ao normal, mas se pode observar um número muito grande de estabelecimentos comerciais fechados e um aumento na disponibilidades de imóveis para venda e aluguel”.

“Em 4 de maio pudemos abrir nosso estabelecimento comercial e ele está trabalhando quase normalmente, mantendo restrição de aforo. O ano escolar aqui já terminou (vai de setembro a junho) mas, desde 12 de março, foi 100% online, com os professores dando aulas e mantendo em dia os conteúdos, inclusive com avaliações online e acompanhamento individual aos alunos, tudo a distância. Os treinamentos esportivos, que meu filho pratica aqui, estão retornando pouco a pouco, mas sem partidas amistosas ou oficiais, apenas os esportistas profissionais podem participar de competições. Agora também está liberada a circulação por todo o país e as pessoas já podem viajar de carro, trem ou avião mantendo o uso obrigatório de máscaras”, afirmou o mogiano.

Mais recentemente, em 22 de junho, o governo espanhol liberou as viagens intra-comunitários, ou seja, por toda a Europa e, a partir de 1 de julho, começará a liberação de fronteira para pessoas extra-bloco. Questionado se concorda com a medida, Camilo defendeu que ela é necessária para ajudar a reativar a economia, pois 25% da Espanha depende do turismo para manter os negócios e os empregos. “O que se pode fazer é que todos mantenham os cuidados para evitar o contágio e, ao meu ver, priorizar a proteção aos grupos de riscos, principalmente aos idosos para que não se exponham a um risco excessivo visto que a taxa de mortalidade nesta faixa etária é muito grande”, disse ele, acrescentando em seguida: “Acredito que agora os governos e os profissionais de saúde já estão com muito mais conhecimento para conter novos focos da doença. Por aqui, o exército está produzindo material de proteção e medicamentos para assegurar a proteção aos profissionais de saúde e os hospitais já estão com sua capacidade de atendimento restabelecidas, o que garante o atendimento em caso de novos contágios”.

O mogiano disse que se sente seguro com a capacidade e agilidade do sistema de saúde espanhol. “O sistema de saúde é bastante bom e o tratamento precoce aos casos detectados ocorre de forma massiva e sem o cunho político dado aí no Brasil. Pelo que ficamos sabendo de pessoas que estavam com sintomas da doença e posteriormente confirmação da infecção, foram tratados com hidroxicloroquina e azitromicina, normalmente em suas casas, e se a situação piorasse outros medicamentos eram administrados nos hospitais, sem nenhuma conotação política para este fato”, contou ele.

“Aqui em Madrid, por exemplo, a presidente está construindo um hospital para emergências, com 1.000 leitos, que será utilizado para concentrar o tratamento aos pacientes de Covid-19 e que deve estar pronto para uso em outubro, ampliando e especializando o tratamento desta doença e de outras que poderão surgir ao longo do tempo”, concluiu o mogiano.

Fotos: Arquivo pessoal

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