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ALTO TIETÊ

Pesquisador alerta para preservação de espécies ameaçadas de extinção no Alto Tietê



O sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita) pode ser encontrado na Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra do Itapeti e seu entorno, na região de Cocuera, no Corredor Ecológico Municipal e na parte sul de Mogi das Cruzes. Já a Palmeira Juçara está presente na bacia hidrográfica Alto Tietê Cabeceiras. Você deve estar se perguntando o que as duas espécies têm em comum. Elas estão ameaçadas de extinção.



Este sagui está na lista dos 25 primatas mais ameaçados do mundo. A International Union for Conservation of Nature (IUCN) o classificou como “ameaçado de extinção”, apresentando um decréscimo populacional, e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO) apontou como “em perigo”.



No Alto Tietê, desde 2018, a espécie é monitorada e mapeada pelo Laboratório de Mapeamento e Análise da Paisagem (LabMAP) da UMC (Universidade de Mogi das Cruzes), coordenado pelo professor Ricardo Sartorello, com o objetivo de evitar sua extinção. Em paralelo, os pesquisadores trabalham com a Fundação Florestal do Estado de São Paulo em um plano para a conservação da espécie e controle de outras espécies exóticas.



Às vésperas do Dia de Proteção às Florestas, comemorado em 17 de julho, o professor Ricardo faz uma reflexão sobre os desafios para preservação de espécies como estas, que habitam a Mata Atlântica. “Entre os motivos do declínio desta população estão a expansão da urbanização e da fronteira agrícola. Outro ponto é o avanço da fragmentação na Mata Atlântica. Isso faz com que espécies que dependem de ambientes florestais como este sagui, acabem ficando isoladas em pequenas porções do bioma. Aqui na região, devido à cobertura florestal remanescente de Mata Atlântica, ele ainda é encontrado nos municípios. Em Mogi das Cruzes as populações estão distribuídas nos que chamamos de fragmentos florestais da cidade”, explica.



De acordo com o pesquisador, a situação dessa espécie denuncia uma falta de efetividade na conservação a longo prazo. Além disso, dois problemas graves foram identificados. “O primeiro é que o processo de fragmentação da mata resulta na perda da conectividade entre as manchas de vegetação nativa, dificultando a movimentação dos indivíduos para obter alimentação e para a formação de novos grupos. As consequências do isolamento são a falta de alimentos, que enfraquece o bando, e o cruzamento dos indivíduos dentro do mesmo grupo, o que causa doenças genéticas que podem ocasionar a extinção local da espécie”, esclarece o professor.

Para vencer o isolamento, os saguis tentam se deslocar atravessando áreas arriscadas para eles como áreas abertas, estradas e rodovias. “Infelizmente, algumas vezes, as travessias geram atropelamentos e eles acabam morrendo eletrocutados, como mostrou nosso estudo. Diante dessas constatações, nosso laboratório trabalha em um estudo experimental em parceria com a Prefeitura de Mogi das Cruzes e empresas da região para a construção e instalação de passagens de fauna suspensas (pontes de dossel), o que vai permitir o melhor fluxo gênico da espécie e também na contração do número de acidentes como atropelamentos”, adianta.

O segundo grave problema é a perda de território para outras espécies de saguis, como o Callithrix jaccus, que foram trazidos de outras regiões do país por tráfico de animais silvestres, comercializados e depois foram soltos indevidamente nas áreas naturais, ameaçando as espécies endêmicas da região. “Essas espécies invasoras geram a disputa por territórios e um processo de hibridização, cruzamento, entre as espécies, o que coloca o sagui-da-serra-escuro em maior risco. No Parque Centenário, em Mogi das Cruzes, pode-se observar facilmente os bandos da espécie C. jaccus, presença que é alvo da curiosidade dos visitantes”, salienta.

Palmeira Juçara

No Alto Tietê, a Palmeira Juçara (Euterpe edulis) está presente na bacia hidrográfica Alto Tietê Cabeceiras. A valorização do palmito como iguaria gastronômica nacional e internacional, desde a metade do século XX, fez com que ela fosse retirada dos fragmentos de Mata Atlântica de forma ilegal e predatória ao ponto de se tornar, em 2008, uma espécie ameaçada de extinção no bioma.  Nativa e um símbolo da Mata Atlântica, pode alcançar até 20 metros de altura e demora entre 5 e 15 anos para gerar os primeiros frutos, dependendo das condições ambientais. Essa espécie gosta de muita luz e umidade, ocorrendo nas vertentes das serras e morros da Mata Atlântica até a altitude de 1.200m.

O professor explica ainda o processo que deixa a Juçara nessa situação. “Para a retirada do palmito, a palmeira precisa ser cortada no caule, causando a morte da planta. Devido à falta de controle sobre a origem do palmito, o governo federal proibiu a comercialização do palmito dessa espécie. Mas o comércio ilegal continua ocorrendo por grupos chamados “palmiteiros” que entram nas florestas e retiram o palmito ilegalmente”, explica o especialista.

Papel Ambiental

Na Mata Atlântica, seus frutos e sementes são alimentos para mais de 68 espécies de animais, entre aves e mamíferos, como tucanos, jacus, sabiás que são os seus principais dispersores na natureza. Entre os mamíferos estão às cotias, antas, catetos, primatas, morcegos e diversos roedores se beneficiam dessas sementes e frutos. Por isso a exploração predatória da Palmeira Juçara tem um grande impacto sobre muitas espécies de fauna.

Segundo Ricardo, uma alternativa à extração do palmito é o incentivo à exploração da polpa dos frutos da palmeira. “Essa atividade pode gerar uma importante fonte de renda e não mata a palmeira, quando feito o manejo de forma sustentável. A polpa pode ser consumida em forma de sucos, vitaminas, molhos, pães, bolos’, complementa.

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